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Aurora

 

Paulo Wenderson Teixeira Moraes

2016

E     A        B

Ainda agora

E     A        B

Sentado naquela grama

E     A        B

Na cama de quem me ama

E     A        B

Nasce aurora

 

E     A        B

A natureza é autora

E     A        B

Veste aquela rama

E     A        B

Mais um milagre sem fama

E     A        B

Trabalhando sem drama

 

E     A        B

Chupei a manga

E     A        B

Lancei o caroço

E     A        B

Veio a nascer uma planta

E     A        B

Sem alvoroço

 

E     A        B

A natureza é autora

E     A        B

Veste aquela rama

E     A        B

Mais um milagre sem fama

E     A        B

Trabalhando sem drama

E     A        B

A Natureza

E     A        B

Nasce aurora

Bom dia, Bom domingo.

 

Domingo no parque, D. na praia, D. em casa. Em qualquer lugar, o domingo pode guardar uma música para clarear. Basta com um clique despertar o que está no ar. A onda melodias irá te levar. Hoje, “vou te contar o que os olhos já não podem ver, coisas que só o coração pode entender...”. Vou te contar a história da música ​"Aurora" que surgiu de um poema escrito cerca de três meses depois do dia 13 de abril de 2015. Nesta data, houve uma homenagem à professora Sônia Cabeda no IV Seminário Interdisciplinar do Núcleo de Estudos sobre a Contemporaneidade, pois ela estava na iminência de se aposentar.

No módulo VII do campus da Universidade Estadual de Feira de Santana(UEFS), levamos uma muda da árvore Neem e pedimos para que ela plantasse e algumas palavras foram proferidas: "Prezada prof. dra. Sônia, esta árvore representa a sua jornada na UEFS. Aqui você cresceu e frutificou, fazendo sombra para que nós pudéssemos hoje estar aqui com possibilidade de desenvolvimento e dando continuidade à expansão da psicologia na UEFS. Somos grato ao seu trabalho ao longo desses 30 anos e desejamos que sua caminhada nessa nova etapa da vida seja próspera e que possa colher os frutos dessa missão cumprida".

Antes de dar aula, eu sempre procurei olhar o aspecto da planta e regá-la quando necessário. Entretanto, uma semana depois as formigas devoraram a ramagem deixando apenas o talo verde. Fiquei triste e tive uma ideia desesperada. Peguei dois ramos da árvore que já tinha cerca de 3 anos e que eu havia plantado para registrar o começo do curso de psicologia. Passei durex e colei na muda recém plantada. Pedi à natureza que se encarregasse do que fosse possível. 

Na semana seguinte a UEFS entrou numa greve que se prologou por mais de três meses. Depois de tanto tempo, já havia esquecido do que tinha sido plantado. No primeiro dia do retorno ao trabalho, recomecei a rotina. Cheguei no ônibus de Salvador às 8 horas da manhã. Peguei uma esteira em minha sala e me dirigi para o gramado a fim de praticar 20 minutos de Yoga, me preparando para a jornada laboral. Já nos primeiros instantes de meditação, na posição do diamante, me lembrei da muda de Neem, plantada há três meses atrás. Não me iludi, apenas me levantei resignado com a possibilidade de um desfecho fatal. Caminhei naquela manhã de sol, após a aurora, para a jubilosa sensação de ver a muda verdejante com suas ramas sorrindo para mim. Teria sido o transplante imprudente o socorro necessário para a sobrevivência desse ser vegetal tão frágil? Não importa, pois em verdade é a natureza a autora do prodígio. Ainda emocionado, percebi os pequenos ramos secos envoltos com a atadura de durex posto no chão, a rir de mim. Mas gosto de pensar que a natureza divina se comoveu com o meu gesto amável e atendeu ao meu pedido. 

Voltei para a esteira. Fechei os olhos. Os versos vieram inteiros como que sussurrados pelo vento. "Ainda agora, sentado na grama, na cama de quem me ama, nasce aurora. A natureza é autora, veste aquela rama, mais um milagre sem fama, trabalhando sem drama". Lágrimas escorreram e o dia foi esplêndido.

Amarrei a esteira para voltar para a sala, quando me deparei com um broto de manga. Lembrei que tinha chupado uma manga e lançado o caroço. Sem alvoroço, veio a surgir uma planta. Logo pensei, mais um milagre sem fama e a natureza é a autora. Quando cheguei em casa, à noite, me dei cota de que os versos se casavam perfeitamente com uma melodia que eu repedia brincando, para sentir o samba de roda. Apenas três notas, mi, lá e si. Continuo pensando que a natureza é a autora.             

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